Num mês de junho,
encarnado de flores do mulungu, ouviu-se dizer que tinha uma anta
enorme que andava no entroncamento dos rios. À boca da noite, saiu um caçador com
a sua “ lazarina” carregada de pregos e chumbo à procura da anta. Depois de
andar muito, divisou por trás do tronco rugoso de um pé de mulungu o pêlo
escuro da anta com mais de dois metros de altura. O animal aproximou-se sem
medo, balançando levemente a tromba com mostras de alegria pelo encontro. O
caçador nem ligou: Fez pontaria e fogo. A anta caiu e ainda viva lhe foi tirado o
couro. Mesmo esfolada, fugiu sangrando prá dentro do rio.
O caçador enterrou
o couro na areia do Curimataú. E acabou-se o sossego do lugar: A anta
aparecia nas noites, assombrando os moradores, com as carnes à mostra, gemendo
como se fosse gente.
O
povo morador da margem direita do Rio Curimataú só se acalmava quando havia
enchente. A anta ficava do outro lado. E todo mundo sabe que assombração não
atravessa água. Quando as águas baixavam que o leito do rio restava só areia,
recomeçavam as aparições. O remédio era ficar nu porque assombração só
aparece à gente vestida. Mas ninguém queria ficar nu o tempo todo.
Quem se aventurasse
a andar de noite, se não encontrava a anta, ficava marcado, inchado das
urtigas. O que fazer?
Frei Serafim de Catanea, OFMCAP |
Extraído de:
LIMA,
Diógenes da Cunha. A lenda de Nova Cruz: a Anta Esfolada. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1980, n° 70, Pgs. 31 e 32.
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